terça-feira, 10 de julho de 2007

Mother's House...simétrica?!

Dando continuidade ao Pós-Moderno e finalizando meu blog, coloco como um última imagem a foto da casa projetada por Robert Venturi para sua mãe Vanna Venturi, que ficou conhecida como "Mother's house".A casa tem um sentido da simetria, contudo a simetria é distorcida frequentemente.
Uma das traduções para o inglês da palavra SIMETRIA é BALANCE, e sabendo-se disso, a forma de classificar uma construção como simétrica, torna-se diferente!
A Mother's House possui 5 quadrados da janelas de cada lado, o que está balanceado!

Esta casa ainda é motivo de frequentes discussões em classes da história da arquitetura e da arte e inspirou o trabalho de muitos outros arquitetos.

Achei essa informação muito interessante e importante! Pode-se observar essa questão em outras obras, e creio que isso nos faz pensar um pouquinho mais a respeito do real sentido da simetria...

mudanças à vista..Pós-Modernismo

A partir dos anos 60, motivados pelas modificações culturais na sociedade e pelo fracasso de certas obras racionalistas, alguns arquitetos, notadamente nos Estados Unidos, começaram a questionar alguns antigos dogmas modernistas. Por que abrir mão dos elementos de decoração? Por que não usar símbolos? O que há de errado com a simetria? Por que renegar os estilos clássicos? Começava a nascer uma nova corrente arquitetônica, desta vez antagônica ao modernismo como um todo, o chamado "pós-modernismo".
Na falta de um termo melhor, a expressão pós-modernismo tentava identificar tudo o que vinha após o modernismo. Na realidade, é difícil definir o pós-modernismo, porque ele bebeu de todas as fontes arquitetônicas ocidentais, até mesmo do modernismo, apesar de renegá-lo em muitos aspectos.



Embora de características efêmeras, com obras muitas vezes relacionadas a cenários descartáveis, executadas com meros fins comerciais, o pós-modernismo teve o mérito de sacudir o marasmo criativo que assolava a arquitetura moderna nos anos 60 e 70. Parecia que tudo já havia sido inventado, e que o que se fazia era simplesmente reproduzir as soluções consagradas. Os pós-modernistas não tinham medo de introduzir elementos clássicos em seus projetos, como colunas jônicas e frontões, e misturas aparentemente absurdas, instigando o observador a se questionar e a se posicionar a respeito, aplaudindo ou vaiando. O pós-modernismo é intencionalmente polêmico e, neste sentido, teve amplo êxito.





Fotos: 1º :Gordon Wu Hall - Princeton, Estados Unidos – Arq. Robert Venturi – 1983
Simetria, simbolismo e decorativismo
2° : The Humana Building - Louisville, Estados Unidos – Arq. Michael Graves – 1982- 1985
Simetria, simbolismo, elementos clássicos e contradição. É notável o contraste com o edifício racionalista vizinho.

Saltando p/ o Modernismo..

Fazendo um rápido retrospecto da arquitetura ocidental no final do séc XIX e princípio do séc XX....
Naquele período, a arquitetura era esteticamente dominada pelo neoclassicismo, que era a reedição adaptada dos estilos clássicos greco-romanos, pelo ecletismo, que era a mistura deliberada dos mesmos elementos greco-romanos e também dos renascentistas, e por movimentos mais focalizados como o "art nouveau" e o "art deco". Muito vinculada às artes plásticas, notadamente a escultura, aquela arquitetura tinha um processo de produção distanciado do dinamismo e das necessidades da nascente sociedade industrial. A arquitetura daquela época era voltada para a execução de palácios, edifícios administrativos e comerciais ou moradias para a burguesia, quase sempre de caráter monumental.Havia a necessidade premente de dar uma resposta eficaz às solicitações de simplificação, rapidez de execução e redução de custos ditadas pelo novo mundo industrial.
A chamada arquitetura moderna racionalista surge justamente das novas necessidades da sociedade industrial com uma nova estética, marcada pela eliminação dos dogmas da arquitetura ocidental do século XIX, como a rigidez das formas e da imagem dos edifícios (ex.: simetria e ortogonalidade obrigatórias), decorativismo (elementos escultóricos) e elementos simbólicos.

O modernismo fora caracterizado por duas tendências, uma sinuosa e orgânica e outra geométrica e abstrata, e na arquitetura, firmou-se com duas vertentes, o organicismo ( de Frank Loyd Wright) e o racionalismo ( de Groupius e Mies Van der Rohe).
O período moderno racionalista, traduzido por Mies van der Rohe pela expressão “menos é mais”, é simplificador, homogeneizador e universalista, na medida em que tenta padronizar as formas arquitetônicas pelos materiais construtivos e pelo aspecto externo dos edifícios, bem como pela implantação e estrutura das cidades. O período moderno organicista, traduzido por Frank Lloyd Wright na expressão “menos é mais somente quando o mais está em excesso”, rompe com a padronização ao introduzir novos materiais construtivos e formas arquitetônicas mais rudes e selvagens, tendendo a uma maior complexização.
Fotos: Escola de Arquitetura e Arte em Dessau, Alemanha - Arq. Walter Gropius - 1919-1925 e Casa da Cascata - Pennsylvania, USA Frank Lloyd Wright - 1935

...e o Barroco?! "Wolfflin explica.."

Segundo Heinrich Wolfflin:
"o conceito básico do Renascimento Italiano é o conceito da proporção perfeita. Na figura humana, tanto quanto nas edificações, esse período procurou obter a imagem da perfeição que repousa em si mesma.
Cada uma das formas ganha uma existência autônoma, e se articula livremente; são partes vivas, absolutamente independentes. A coluna, o setor de parede, o volume de um simples setor de espaço, bem como do espaço total – nada além das formas nas quais o ser humano pode encontrar uma existência satisfeita em si mesma, que transcende a medida humana, mas que é sempre acessível àimaginação."

A partir dessa definição, vamos ao que interessa nesse momento.. a respeito do Barroco o mesmo Wolfflin diz:
" o barroco emprega o mesmo sistema de formas, mas em lugar do perfeito, do completo, oferece o agitado, o mutável; em lugar do limitável e concebível, o ilimitado e colossal. Desaparece o ideal da proporção bela e o interesse não se concentra mais no que é, mais no que acontece. As massas, pesadas e pouco articuladas, entram em movimento. A arquitetura deixa de ser o que fora no Renascimento, uma arte da articulação, e a composição do edifício, que antes dava a impressão da mais sublime liberdade, cede lugar a um conglomerado de partes sem qualquer autonomia."

Das 5 categorias de Wolfflin, nas quais ele segmentou as características dos conceitos de clássico e de barroco, creio que uma seja pertinente na diferenciação das imagens por meio de seus estilos, com relação à questão da simetria.
Forma fechada ou forma aberta – este aspecto diz respeito às dicotomias entre a rigidez das normas e a liberdade; entre simetria e assimetria; entre horizontais e verticais, e diagonais; respectivamente, qualidades relacionadas ao barroco e ao clássico

Como uma constante do Barroco, indica-se a contraposição ao ideal clássico, com tendências ao bizarro, ao assimétrico, ao extravagante, ao apelo emocional, características estas inexistentes até então na arte renascentista.

Apesar da tendência ao assimétrico, importante dizer que em algumas construções barrocas a simetria de ornatos se fez sim presente. Observe as fotos a seguir:


sábado, 23 de junho de 2007

Leonardo da Vinci (Renascímento) + Vitrúvius (Clássico)

Inspirado no trabalho do arquiteto romano Vitruvius Pollio, que explica a relação entre simetria e perfeição, Leonardo Da Vinci elaborou o seu desenho mais famoso, que veio a ser o desenho mais famoso do mundo também: o “Homem vitruviano” é um pentagrama humano, com o corpo de um homem dentro de um círculo. Deitado de barriga para cima com as mãos e pernas abertas, o corpo masculino poderia ser circunscrito tendo o umbigo como centro do círculo. Sugere ainda, que a figura pode também estar contida exatamente dentro de um quadrado.


Uma curiosa causa de simetria. A simetria bilateral do Cristo humano se transpassa a sua cruz e desta às plantas de suas catedrais. (na foto: Catedral de Florença)

Renascimento

Na arquitetura renascentista, a ocupação do espaço pelo edifício baseia-se em relações matemáticas estabelecidas de tal forma que o observador possa compreender a lei que o organiza, de qualquer ponto em que se coloque.
“Já não é o edifício que possui o homem, mas este que, aprendendo a lei simples do espaço, possui o segredo do edifício” (Bruno Zevi, Saber Ver a Arquitetura)
Na arquitetura, seguiram-se também os preceitos clássicos. A horizontalidade dos monumentos renascentistas seguiam critérios geométricos e racionais, procurando um maior equilíbrio e simetria nas proporções das suas várias partes, assim como a adoção de elementos da arquitetura grega e romana.
A Capela dos Pazzi, em Florença, é um exemplo de arquitetura típica renascentista.Seu espaço central é quadrado, com a cúpula elevada, alargado por espaços baixos abobadados. Suas paredes são brancas, divididas por pilares cinzas; seu interior é claro e bem proporcionado. O estilo clássico da construção também se observa nos medalhões de cerâmica esmaltada. Na entrada, há um pórtico gracioso, com colunas clássicas. Baseia-se na arquitetura greco-romana, com suas linhas retas e puras.

só complementando..

Falou-se no último post que simetria é um fator de harmonia nas formas ; porém, sendo um fator necessário não é suficiente para determinar um sentimento estético de percepção do que consideramos "belo".Necessário, porque a harmonia é psicologicamente tranqüilizante, mas insuficiente porque não comporta emoções estéticas capazes de determinar um julgamento.
A respeito do que a presença ou não da simetria desperta nas pessoas, este trecho de uma fala de Boullée pode ser pertinente nesse momento.
“Suponha, em arquitetura, uma obra na qual as proporções não estejam perfeitamente resolvidas; sem dúvida seria um grande defeito. Porém, isto não quer dizer que esse defeito fere o órgão da vista até o ponto de não podermos suportar o aspecto do edifício; porque, então, esse defeito influiria sobre nossa vista da mesma maneira que influi sobre nossos ouvidos um falso acorde musical. Na arquitetura, o defeito de proporção não é, de ordinário, demasiado relevante mais que aos olhos dos entendidos.”

Período Clássico


Thales de Mileto é o primeiro a estabelecer teoremas fundamentados no principio intuitivo da simetria e Euclides estudará os cinco poliedros convexos com os que Platão imagina a harmonia do Universo.Escultores e arquitetos gregos e romanos, como Vitruvius, vêm na simetria (symmetria) o equilíbrio e a harmonia, assim como a solidez e a força, imanentes no corpo humano. (falarei mais sobre isso a frente!)
A colunata coríntia, o frontão encimando a fachada com a presença da rotunda (tambor de base circular coroado com uma cúpula e circundado por colunata), são característicos do período. A simetria marcante e composição perfeitamente equilibrada são traços típicos da arquitetura clássica!!



No tempo das pirâmides...


Desde as construções do Egito Antigo a presença da simetria aparece de forma visível. Os templos e obras monumentais como as pirâmides são bons exemplos de celebração a simetria!!
Nos templos, fileiras de esfinges ladeavam a estrada sagrada. As colunas eram coloridas, ostentando motivos da natureza vegetal. O capitel, perfeitamente geométrico, tinha os ornatos na base e no alto da coluna estilizando a flor de lótus (uma das características mais marcantes da arquitetura e decoração egípcias).

Achei interessante um trecho que li a respeito da simetria das pirâmides, aliando a forma visual a uma questão política.
...”E com justa razão as pirâmides do Egito foram caracterizadas como os símbolos da arquitetura política dos grandes déspotas orientais; uma sociedade estruturada de modo totalmente simétrico, cujos elementos, à medida que a gente se eleva, diminuem rapidamente de volume, aumentam rapidamente em poder, para desembocar nessa ponta que domina uniformemente todo o conjunto.”
Georg Simmel

domingo, 3 de junho de 2007

starting..


SIMETRIA = Correspondência, em grandeza, forma e posição relativa, de partes situadas em lados opostos de uma linha ou plano médio, ou, ainda que se acham distribuídas em volta de um centro ou eixo.
A simetria ocorre ou é aplicada em várias das vertentes da ação humana: na geometria, matemática, física, biologia, arte (ARQUITETURA, música, dança, artesanato), literatura, etc.

Neste blog, o estudo da simetria será focado na arquitetura, utilizando-se da História para compreender a relevância desta característica na diferenciação dos períodos históricos.